PROJETO DE PESQUISA
Planejamento e análise de experimentos para melhoria de processos: desenvolvimento metodológico, aplicações e textos didáticos.
Entidades:
Departamento de Informática e Estatística (INE / CTC / UFSC)
Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação (CPGCC / UFSC)
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP / UFSC)
Laboratório de Estatística Aplicada (LEA / INE / UFSC)
Núcleo de Normalização e Qualimetria (NNQ / EPS / UFSC)
Coordenador
:Prof. Pedro Alberto Barbetta, Dr. (INE / CTC / UFSC)
Participantes
:Prof. Dalton Francisco de Andrade, PhD. (INE / CTC / UFSC)
Prof. Paulo José Ogliari, Dr. (INE / CTC / UFSC)
Profa. Viviane Leite Dias de Mattos (Doutoranda PPGEP / UFSC)
Financiamento: FUNCITEC
1 – Sobre a equipe de pesquisadores
Os professores D. F. de Andrade, P. A. Barbetta e P. J. Ogliari vêm pesquisando na área de planejamento de experimentos há mais de 5 anos. Houve duas publicações em periódicos internacionais (Quality And Reliability Engineering International e Statistical Computation And Data Analysis), três em periódicos nacionais (Produto & Produção / UFRGS, Revista Brasileira de Estatística / IBGE e Revista de Matemática e Estatística / UFSCar) e várias publicações em anais de eventos científicos (detalhes nas Referências Bibliográficas). A Profa. Viviane Mattos faz doutorado em Engenharia de Produção, desenvolvendo aspectos metodológicos na área deste projeto, com vários artigos apresentados em eventos científicos, com destaque ao ENEGEP e SINAPE, além de artigo aceito no periódico Produção / ABEPRO.
No Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação, a equipe ministra regularmente a disciplina Planejamento e Análise de Experimentos e vem aplicando as novas metodologias em dissertações, propiciando a caracterização e otimização de sistemas e algoritmos computacionais, que são áreas de aplicação pouco exploradas na literatura. Trabalhos da equipe desenvolvidos nessa linha: Lehrer (2000), Barbetta e Lehrer (2001) e Silva (2002).
1 – Descrição do projeto
1.1 – Introdução
Desde os primórdios da investigação científica, realizavam-se experimentos para validar teorias e para levantar novas hipóteses sobre um mundo desconhecido. Mas foi a partir da década de 20, com os trabalhos de R. A. Fisher, que se passou a ter uma metodologia confiável para planejar experimentos e analisar os seus dados. Os trabalhos de Fisher eram voltados, em grande parte, à agricultura; e buscavam, por exemplo, encontrar uma combinação adequada dos elementos de um fertilizante, considerando o cultivo, o clima e o tipo de solo.
Na área industrial, para se avaliar o efeito de vários fatores no desempenho de um produto, a prática comum era o uso de experimentos do tipo um-de-cada-vez, isto é, variava-se um dos fatores, enquanto mantinham-se os demais fixos, resultando num procedimento extremamente ineficiente e que, em geral, não levava à combinação ótima dos níveis dos fatores estudados. Contudo, nas duas últimas décadas, muito influenciado pelos trabalhos de Box et al. (1978) e Taguchi (1987), as técnicas de planejamento de experimentos passaram a fazer parte de programas de melhoria da qualidade (ver, por exemplo, Werkema e Aguiar, 1996).
A figura 1 ilustra projetos experimentais que permitem analisar vários fatores simultaneamente. No caso (a), tem-se um experimento fatorial com três fatores, ensaiados a dois níveis, onde a resposta é observada em cada uma das 23 = 8 combinações possíveis. No caso (b), utiliza-se um fracionamento para reduzir o número de ensaios para 23-1 = 4. Em geral, os fracionamentos são usados em experimentos com grande número de fatores, permitindo caracterizar o processo (identificar os fatores mais influentes) com um número razoavelmente pequeno de ensaios e, com isso, reduzir o custo do experimento.
Figura 1 - Ilustração projetos de experimentos com três fatores ensaiados a dois níveis.
1.2 – Desenvolvimentos metodológicos
Com a crescente utilização das técnicas de planejamento de experimento para a melhoria da qualidade e a preocupação em desenvolver produtos e processos robustos, aumenta, também, a importância de se identificar fatores que alteram a variância do processo, assim como de se construírem modelos que relacionam as variâncias de características funcionais do produto com fatores controláveis do processo. (Taguchi, 1987; Box, 1988; Caten e Ribeiro, 1996 e Montgomery, 1997) Vários trabalhos do grupo de proponentes deste projeto foram feitos nessa linha, como por exemplo: Barbetta et al. (1999), Barbetta et al. (2000), Mattos et al. (2002) e Mattos et al. (2003).
Outra linha de trabalho da equipe tem sido na formulação e construção de modelos de análise quando as observações são realizadas ao longo do tempo (medidas repetidas), considerando as unidades experimentais submetidas a diferentes tratamentos: Ogliari et al. (1999), Ogliari et al. (2000) e Ogliari et al. (2001).
1.3 – Aplicações em sistemas e algoritmos computacionais
A aplicação da metodologia de planejamento de experimentos na avaliação de sistemas computacionais é razoavelmente recente. Contudo, Jain (1991) já elegia o planejamento de experimentos como uma das principais ferramentas na avaliação de desempenho de sistemas computacionais. Muitos trabalhos, também, apoiam-se em sistemas computacionais para simular dados de algum processo, como descrito em Welch (1992), Mayer e Benjamin (1992) e Shang e Tadikamalla (1998). O projeto de simulação e a análise dos dados são feitos sob a metodologia de planejamento de experimentos. Esta abordagem pode ser aplicada, por exemplo, em sistemas de rede e transmissão de dados, como forma de redução de custos e melhoria da qualidade, ainda na fase de projeto do sistema.
No Curso de Pós-Graduação em Ciências da Computação da UFSC, Lehrer (2000) usou a teoria de projeto de experimentos para aprimorar um algoritmo computacional. Lehrer identificou os principais fatores que alteravam um algoritmo genético, projetado para o problema do caixeiro viajante. Nesse primeiro trabalho, Lehrer procurou apenas levantar os fatores significativos, mas estudos desse tipo ainda podem ser complementados com a fase de otimização. A figura 2 ilustra essa fase, considerando a probabilidade de crossover e a probabilidade de mutação do algoritmo genético como fatores de entrada; e uma medida da qualidade da solução (menor-é-melhor) como resposta do processo. Detalhes em Barbetta e Lehrer (2001).
Figura 2 - Ilustração de uma superfície de resposta ajustada aos dados para estudar a melhor combinação dos fatores de entrada.
Barbetta (1998) e Barbetta et al. (2000) também apresentaram uma aplicação pouco comum de planejamento de experimentos, ao aperfeiçoar um procedimento estatístico. A metodologia foi aplicada sob dois enfoques. Num primeiro momento, identificou-se os fatores mais relevantes do processo (fase de caracterização) e, depois, buscou-se a combinação de níveis dos fatores mais relevantes para maximizar o desempenho do processo (fase de otimização).
2 – Problemática de pesquisa e objetivos
O presente projeto se desenvolve em três direções:
No desenvolvimento metodológico, propõe-se adequar os métodos de indentificação de efeitos de dispersão para projetos 2k e 2k-p com poucas replicações; e realizar estudos de simulação para comparar as técnicas, oferecendo como produto o estabelecimento de qual método é o mais adequado em cada situação de pesquisa. Na abordagem prática, a realização de trabalhos conjuntos com outros grupos de pesquisa, focando uma estratégia correta de planejamento e análise de experimentos. E esses estudos serão usados como exemplos em livro texto.
Seguem alguns objetivos específicos:
1) Consolidar um grupo de pesquisa na área de Planejamento e Análise de Experimentos na UFSC;
2) Desenvolver novas metodologias e estratégias de planejamento e análise de experimentos, com vistas à otimização de produtos e processo;
3) Desenvolver um livro básico de Estatística para os Cursos de Engenharia e Informática, disseminando os princípios básicos da experimentação (projeto e análise de experimentos) e motivando com exemplos de pesquisas desenvolvidas na UFSC. Essa atividade já está em fase adiantada de desenvolvimento.
4) Aprimorar sistemas computacionais através de experimentos estatisticamente planejados;
5) Formar mestres e doutores (CPGCC e PPGEP / UFSC) na área do projeto ou com aplicações dessa área;
6) Desenvolver material didático para as disciplinas de planejamento de experimentos oferecidas no CPGCC e no Curso de Graduação em Sistemas de Informação;
7) Realizar trabalhos conjuntos com grupos de pesquisadores que necessitam de Planejamento de Experimentos em seus trabalhos de pesquisa (trabalhos preliminares estão sendo realizados no CPGCC, PPGEP PGCal e PGMat / UFSC)
8) realizar assessorias à empresas ou à órgãos públicos, no desenvolvimento de produtos e processos, com apoio da metodologia de Planejamento de Experimentos;
3 – Justificativa
A consolidação de um grupo de pesquisa em Planejamento de Experimentos na UFSC vai contribuir para a melhoria das pesquisas experimentais da instituição. Usando adequadamente essa metodologia, é possível extrair mais informações com menos ensaios, maximizando a relação custo-benefício.
A publicação dessas técnicas em livros textos, exemplificadas com pesquisas locais, ajudará não só na disseminação das técnicas, como também na divulgação da própria Instituição e seus grupos de pesquisa. Um desses livros textos já teve projeto aprovado pela Editora Atlas.
4 – Cronograma
Ano/semestre |
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Atividades |
2003/2 |
2004/1 |
2004/2 |
2005/1 |
2005/2 |
1 – Elaboração de projeto |
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2 – Revisão bibliográfica |
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3 – Contatos com outros grupos de pesquisa |
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4 – Coleta de estudos experimentais para exemplos didáticos |
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5 – Elaboração do primeiro texto didático |
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6 – Elaboração de texto didático mais específico |
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7 – Desenvolvimento metodológico: Estudos de simulação para comparação de métodos de identificação de efeitos de dispersão |
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8 – Aplicações dos novos métodos em pesquisa aplicada às áreas de Engenharia e Informática |
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9 – Desenvolvimento de artigos sobre efeitos de dispersão |
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10 – Formação de mestres ou doutores |
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11 – Assessorias a pesquisadores |
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12 – Publicação de livro didático |
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13 – Publicação de artigos (periódicos nacionais) |
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14 – Publicação de artigo (periódico internacional) |
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5 – Resultados esperados e formas de disseminação
1 – Livro texto para estudantes de graduação (Engenharia e Informática), incluindo exemplos baseados em estudos experimentais realizados na UFSC . Previsão: 2004, Veículo provável: Editora Atlas.
2 – Artigo preliminar sobre identificação de efeitos de dispersão em experimentos com poucas replicações. Previsão: 2004. Veículo: revista Produção (já aceito).
3 – Artigo focando uma aplicação dos métodos de identificação de efeitos de dispersão, na Engenharia Civil. Previsão: 2004. Veículo provável: revista Produto & Produção.
4 – Artigo final sobre identificação de efeitos de dispersão em experimentos com poucas replicações. Previsão: 2005. Veículo provável: Journal of Quality Technology.
5 – Material didático de Planejamento de Experimentos com exemplos de estudos realizados na UFSC. Previsão: 2005. Veículo provável: não definido.
Referências Bibliográficas
barbetta, p. a. - Construção de modelos para médias e variâncias na otimização experimental de produtos e processos. Tese (Engenharia de Produção), Florianópolis, 1998.
Barbetta, P. A. e Lehrer., C - O uso da metodologia de superfície de resposta para adequar os parâmetros de entrada de um algoritmo genético. Salvador: ENEGEP, 2001
barbetta, p. a., RIBEIRO, J. L. D., BORNIA, A. C. – Construção de modelos para a variância na otimização em estudos experimentais. Produto & Produção, v. 3, n. 2, 1999, p. 56-65.
BARBETTA, P. A., RIBEIRO, J. L. D., SAMOHYL, R. W. – Variance regression models in Experiments with few replications. Quality And Reliability Engineering International, Inglaterra, v.16, 2000, p. 397 – 404.
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JAIN, R. – The art of computer systems performance analysis: techniques for experimental design, measurement, simulation, and modeling. USA: John Wiley & Sons, 1991.
LEHRER, C. – Operador de seleção para algoritmos genéticos baseado no jogo hawk-dove. Dissertação (Ciência da Computação), Florianópolis, 2000.
MATTOS, V. L. D.; BARBETTA, P. A.; SAMOHYL, R. W. – Identificação de efeitos de dispersão em experimentos fatoriais dos tipos 2k e 2k-p: um estudo de caso. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, Curitiba - PR. 2002.
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Ogliari, P.J.; Andrade, D.F.; Leandro,R.A. Modelos de regressão não linear com diferentes estruturas para a matriz de covariâncias: uma aplicação a um ensaio com medidas repetidas no tempo. R. bras. Estat. Rio de Janeiro, v.60, n. 214, p.25-39, jul/dez. 1999.
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SHANG, J. S., TADIKAMALLA, P. R. – Multicriteria desin ad control of a celular manufacturing system through and optimization. International Journal of Production Research, v. 36, n. 6, 1998, p. 1515 – 1528.
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WERKEMA, M. C. C., AGUIAR, S. – Planejamento e análise de experimentos. Série Ferramentas da Qualidade. Belo Horizonte: FCO, 1996.
WERKEMA, M. C. C., AGUIAR, S. – Otimização Estatística de Processos. Série Ferramentas da Qualidade. Belo Horizonte: FCO, 1996.
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