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O QUE É "GEOPLANO"
?
Alguns conceitos matemáticos são de difícil
assimilação, especialmente aqueles referentes ao cálculo
de áreas e de perímetros de polígonos. Estes assuntos
são, algumas vezes, abordados de maneira pobre pelos livros de
matemática. Resume-se em colocar figuras geométricas e traçar
teorias para demonstrar como se encontra a área ou o perímetro
de tal figura. Para os alunos, principalmente crianças, torna-se
extremamente cansativo e desinteressante. Vale ressaltar que a matemática
é muitas vezes reconhecida como sendo a disciplina mais complicada
para uma boa parte dos estudantes.
O objeto Geoplano foi criado com a intenção de sanar alguns
destes problemas. Com ele, o aluno poderá desenvolver conceitos
próprios referentes ao assunto. Servirá como estímulo
para sua criatividade e conseguirá aprender de maneira divertida.
Para uma criança, qualquer artifício que chame sua
atenção é suficiente para que ela demonstre interesse
e aprenda algo. O Geoplano é uma alternativa para os métodos
tradicionais de ensino e por isto está sendo abordado intensamente
neste projeto.
O objeto Geoplano é formado por um pedaço de madeira, com
dimensão aproximada de 20x20 cm, e por pregos, formando um quadriculado.
Ao passarmos um elástico circular entre este pregos, polígonos
serão formados. Baseado nesta formação, alguns conceitos
podem ser elaborados: a unidade de comprimento é a distância
entre dois pregos contíguos e a unidade de área é a
superfície do menor quadrado formado pelos pregos.
O Geoplano foi criado pelo professor Caleb Gattegno, do Institute of Education,
London University. Em seu artigo A Pedagogia da Matemática, Gattegno
conclui:
Todos os Geoplanos têm indubitável atrativo estético
e foram adotados por aqueles professores que os viram ser utilizados. Podem
proporcionar experiências geométricas a crianças desde
cinco anos, propondo problemas de forma, dimensão, de simetria, de
semelhança, de teoria dos grupos, de geometria projetiva e métrica
que servem como fecundos instrumentos de trabalho, qualquer que seja o
nível de ensino.
Machado afirma que um objeto concreto, como o Geoplano, facilita o aprendizado:
Pensamos que a Matemática tem sido ensinada em quase todos os
níveis com uma ênfase que consideramos exagerada na linguagem
matemática. A preocupação central parece ser escrever
corretamente, falar corretamente, em detrimento essencialmente do papel que
a Matemática pode desempenhar quanto ao favorecimento de um pensamento,
a um tempo, ordenado e criativo. Evidentemente, não se trata de contrapor
o pensamento à linguagem; não se pode pretender considerá-los
desvinculadamente, ou entificá-los, tratando-os um por vez, uma vez
que é só na relação entre ambos que se pode
apreendê-los. No entanto, em Matemática, com uma
freqüência muito grande, o pensamento situa-se a reboque da linguagem
matemática. Numa parte considerável dos textos, mesmos dos
didáticos, o caminho escolhido para a obtenção dos
resultados é o mais curto, o mais cômodo ou o estritamente mais
agradável, sempre de um ponto de vista linguístico.
E Seymour Papert, salientando a facilidade com que crianças conseguem
absorver vários conhecimentos antes da fase escolar (aprendizagem
sem ensino ou piagetiana), declara :
Se realmente olharmos a criança como um construtor estamos no caminho
de uma resposta. Todos os construtores necessitam materiais para as suas
obras...Em alguns casos, o meio cultural fornece os materiais em
abundância, facilitando assim o aprendizado construtivo piagetiano
/.../ Mas em muitos casos em que Piaget explicaria o desenvolvimento mais
lento de um conceito através de sua maior complexidade ou formalidade,
eu vejo o fator crítico como sendo a relativa pobreza do meio cultural
em materiais que tornariam o conceito simples e concreto. Em outros casos,
ainda, o meio cultural pode fornecer o material mas bloquear o seu uso. No
caso de matemática formal há tanto uma falta de materiais quanto
um bloqueio cultural.
Esta aprendizagem sem ensino ou piagetiana justifica a criação
de um objeto como o Geoplano. Denomina-se de psicogenético o método
criado a partir das teorias e pesquisas piagetianas, porque o processo
pedagógico modifica-se, sucessivamente, de acordo com o estágio
de desenvolvimento mental (psicogenêse) . A criança é
que determina como o professor deve apresentar as situações
didáticas, pois, em cada estágio de desenvolvimento, a
criança tem maneira diferente de aprender (esquemas de
assimilação). A alfabetização , por exemplo,
pode iniciar-se, desde a mais tenra idade, se apresentarmos o material de
leitura de acordo com os processos mentais que a criança está
construindo no momento. O processo didático, abreviadamente, segue
estas linhas fundamentais:
-
toda solução de problema é resolvida em grupo, para
que as crianças se estimulem, mutuamente, e aprendam a cooperar
(comportamento moral e afetivo);
-
a criança deve sempre "tomar consciência" dos mecanismos
de que se utilizou para realizar a atividade proposta (a "tomada de
consciência" substitui o que se chamava, antigamente, "fixação
da aprendizagem" , permitindo a criança compreender com funciona a
mente).
Surge mais um termo, utilizado por Papert, que é "objeto-de-pensar-com".
Este termo refere-se aos artifícios que Papert utilizava quando
criança, permitindo-lhe a assimilação de vários
conceitos matemáticos. Ressalta a importância destes objetos
para o aprendizado. O Geoplano pode, então, ser reconhecido como um
destes objetos.
Neste exemplo, perceberemos como o Geoplano torna fácil o cálculo
de áreas e a assimilação dos conceitos geométricos
calculando a área de um paralelogramo.
Paralelogramo
A área do paralelogramo pode ser calculada como: 4 unidades de área
+ 2 vezes (um retângulo de 2 unidades dividido ao meio), então
4+2 * (2/2) = 4+2 = 6. Portanto, Área = 6 unidades de área.
O cálculo da área do próximo polígono (Figura
1) é mais complexo. A estratégia utilizada: o polígono
foi subdividido em três partes básicas, conforme mostram as
três cores da figura 2, de tal forma a se ter figuras mais simples
e quando necessário o Geoplano foi ampliado para melhor
visualização.
Figura1
Figura 2
A primeira parte está representada na figura 3. A segunda parte na
figura 4.
Figura 3
Figura 4
O cálculo da área do triângulo da figura 3 pode ser feito
de várias maneiras, uma delas considera o quadrado de 4 unidades no
contorno e a exclusão das áreas dos triângulos em cinza,
assim 4-1-1-1/2 = 3/2.
O cálculo da área do triângulo assinalado na figura 4,
foi feito com o Geoplano ampliado, sendo que uma nova malha de dimensão
5X5 foi ajustada, nesse caso cada unidade de área corresponde agora
a 1/16 da unidade original. Aqui de novo considerou-se o quadrilátero
circundante que tem área de 16 e obteve-se: área = 1/16 * [
16-4-8 ] = (1/16) * 4= 1/4. Considerando dois triângulos de mesma
área, temos (¼) * 2 = ½ .
A figura 5 mostra a terceira parte do cálculo da área da figura
de interesse. Esta figura foi subdividida em três outras, mostradas
nas figuras 6, 7 e 8.
Figura 5
Figura 6
Figura 7
A área assinalada na figura 6 também está representada
num Geoplano ampliado com nova subdivisão da malha quadriculada. Nesse
casso a área é igual 1/16 * 5/4 = 5/64. Considerando duas figuras
iguais, temos 2x5/64 = 5/32. A mesma estratégia foi aplicada na figura
7. Área 1/16 * (1 + ½ + 2 ¼ ) = 1/8.
Figura 8
Na figura 8, o Geoplano foi novamente ampliado e uma nova malha 5x5 foi ajustada,
fazendo com que cada unidade de área seja, agora, 1/16 de 1/16, isto
é (1/16)2. Logo a área da figura toda é (1/16)2 * 25/4
(parte pintada de vermelho) mais a área da superfície pintada
de preto. Como a figura pintada de preto é uma repetição
da figura anterior, temos: Área = [ (1/16)2 * 25/4 + (1/16)3 * 25/4
+ (1/16)4 * 25/4 + ...] . Essa expressão representa uma soma de infinitos
termos em progressão geométrica cujo limite é dado por
25/4 * (1/16)2= 25/4 * 1/240 = 5/192. Portanto, a área da figura 1
é: Área = 3/2 + 1/2 + 5/32 + 1/8 + 5/96 = 224/96 = 2,333...
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