Síntese: A Formação Social da
Mente[1]
Aluna:Priscyla Waleska Targino de Azevedo
Simões
A essência da hipótese estabelecida por Vygotsky é a noção de que os processos de desenvolvimento não coincidem com os processos de aprendizado. O processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado. No momento em que uma criança assimila o significado de uma palavra, ou domina uma operação tal como a adição ou a linguagem escrita, seus processos de desenvolvimento estão basicamente completos. Na verdade, naquele momento, eles apenas começaram.
Vygotsky aponta para a importância da linguagem como instrumento de pensamento, afirmando que a função planejadora da fala, introduz mudanças qualitativas na forma de cognição da criança, reestruturando diversas funções psicológicas, como a memória, a atenção voluntária, a formação de conceitos, etc.
A linguagem é a ferramenta mais importante, agindo decisivamente na estrutura do pensamento, e é fundamentalmente básica para a construção do conhecimento. A linguagem é considerada como um instrumento, pois ela atuaria para modificar o desenvolvimento e a estrutura das funções psicológicas superiores, tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as formas humanas de vida.
O sujeito do conhecimento não é apenas ativo, mas interativo, porque constitui conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais.
O organismo e a personalidade reagem frente à sua própria deficiência e no processo de desenvolvimento e de adaptação ativa ao meio, formam uma série de funções, com cuja ajuda compensam, nivelam e substituem as deficiências.
Vygotsky afirma que, num primeiro momento, o conhecimento se constrói de forma inter-subjetiva (entre pessoas) e num segundo momento, de forma intra-subjetiva (no interior do sujeito).
Quando um bebê estende a mão para trocar um objeto e o adulto o aproxima dele, aos poucos a criança internalizará este gesto como o de apontar.
Os adultos que cuidam de um bebê não lhe proporcionam apenas cuidados físicos, mas colocam sobre eles certas representações sociais (imagens, idéias, expectativas) que o introduzem no mundo da cultura.
Passo a passo as crianças vão construindo significados,
conhecimentos, valores, num diálogo consigo próprias, com o
outro e com o mundo, levantando mentalmente as várias posições
(opiniões, concepções, perspectivas) sobre determinado
assunto.
A linguagem então, é o sistema
simbólico básico de todos os
grupos humanos, sendo a principal
mediadora entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Em cada
situação de interação, o sujeito está
em um momento de sua trajetória particular, trazendo consigo determinadas
possibilidades de interpretação do material que obtém
do mundo externo.
O curso de desenvolvimento da criança caracteriza-se por uma
alteração radical na própria estrutura do comportamento;
a cada novo estágio, a criança não só muda suas
respostas, como também as realiza de maneiras novas, gerando novos
instrumentos de comportamento e substituindo sua função
psicológica por outra. A complexidade crescente do comportamento das
crianças reflete-se na mudança dos meios que elas usam para
realizar novas tarefas e na correspondente reconstrução de
seus processos psicológicos.
O conceito que se tem é
que o desenvolvimento implica a rejeição do ponto de vista
comumente aceito de que o desenvolvimento cognitivo é o resultado
de uma acumulação gradual de mudanças isoladas. Acredita-se
que o desenvolvimento da criança é um processo dialético
complexo caracterizado pela periodicidade, desigualdade no desenvolvimento
de diferentes funções, metamorfose ou transformação
qualitativa de uma forma em outra
Para a mente ingênua, evolução e revolução
parecem incompatíveis e o desenvolvimento histórico só
está ocorrendo enquanto segue uma linha reta. Onde ocorrem
distúrbios, onde a trama histórica é rompida, a mente
ingênua vê somente catástrofe, interrupção
e descontinuidade. Parece que a história para de repente, até
que retome, uma vez mais, a via direta e linear de
desenvolvimento.
O pensamento científico, ao contrário, vê
revolução e evolução como duas formas de
desenvolvimento mutuamente relacionadas, sendo uma pressuposto da outra,
e vice-versa. Vê, também, os saltos no desenvolvimento da
criança como nada mais do que um momento na linha geral do
desenvolvimento.
O desenvolvimento é sempre um pré-requisito para o aprendizado
e que. se as funções mentais de uma criança
(operações intelectuais) não amadureçam a ponto
de ela ser capaz de aprender um assunto particular. então nenhuma
instrução se mostrará útil.
Essa abordagem se baseia na premissa de que o aprendizado segue a trilha
do desenvolvimento e que o desenvolvimento sempre se adianta ao aprendizado.
O desenvolvimento ou a maturação são vistos como uma
pré-condição do aprendizado, mas nunca como resultado
dele.
A grande posição teórica é a que postula
que aprendizado é desenvolvimento.
A posição teórica sobre a relação
entre aprendizado e desenvolvimento tenta superar os extremos das outras
duas, simplesmente combinando-as.
A relação da criança com sujeitos mais experientes
caracteriza o que Vygotsky denomina de Zona de Desenvolvimento Proximal,
permitindo que a criança faça sozinha o que é capaz
de fazer e auxiliando-a quando necessário. Nesse sentido, o papel
do professor e dos outros (sejam ele mais experientes ou não) é
o de realizar mediações, significando as ações
da criança e com isso, levá-la a ampliação do
conhecimento.
As primeiras mediações se dão pelos gestos da
criança que os outros irão interprestar, verbalizando suas
ações e criando situações para a
construção de significados. Assim, esses parceiros irão
apresentar o mundo as crianças mediando os conhecimentos
através da linguagem, através da qual a criança, na
interação com o outro e o mundo, organiza seu pensamento e
comunica-se com seus pares.
Somando-se as interações e a linguagem, que estarão possibilitando a construção do pensamento, há também o jogo enquanto brincadeira que age na zona de desenvolvimento proximal. Através dele, as crianças podem experimentar situações, entender a realidade. Jogando, brincando, a criança conhece a si própria, aos outros e as relações que ocorrem em diferentes papéis exercidos pelos sujeitos em nossa cultura.
Tem-se que determinar, pelo menos dois níveis de
desenvolvimento:
O primeiro pode ser chamado de nível de desenvolvimento real,
isto é, o nível de desenvolvimento das funções
mentais da criança que se estabeleceram como resultado de certos ciclos
de desenvolvimento já completados. Quando determina-se a idade mental
de uma criança usando testes, trata-se do nível de desenvolvimento
real. Admite-se, então, que só é indicativo da capacidade
mental das crianças aquilo que elas conseguem fazer por si mesmas.
Em resumo, se por pouco a criança não é capaz de resolver
o problema sozinha - a solução não é vista como
um indicativo de seu desenvolvimento mental. Esta verdade pertencia
ao senso comum e era por ele reforçada. Nunca consideraram a
noção de que aquilo que a criança consegue fazer com
a ajuda dos outros poderia ser, de alguma maneira, muito mais indicativo
de seu desenvolvimento mental do que aquilo que consegue fazer
sozinha.
O segundo nível denomina-se zona de desenvolvimento proximal,
sendo a distância entre o nível de desenvolvimento real, que
se costuma determinar através da solução independente
de problemas. e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação
de um adulto ou em colaboração com companheiros mais
capazes.
O nível de
desenvolvimento real de uma criança define funções que
ainda não amadureceram, mas que estão em processo de
maturação. Caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente,
enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento
mental prospectivamente.
O estado de desenvolvimento mental de uma criança só pode
ser determinado se forem revelados os seus dois níveis: o nível
de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento proximal (a zona de
desenvolvimento proximal hoje, será o nível de desenvolvimento
real amanhã).
Existem relações dinâmicas altamente complexas entre os processos de desenvolvimento e de aprendizado, as quais não podem ser englobadas por uma formulação hipotética.
Todas as concepções correntes da relação entre aprendizado e desenvolvimento em crianças podem ser reduzidas a três grandes posições teóricas:
1ª Concepção: Centra-se no pressuposto de que os processos de desenvolvimento da criança são independentes do aprendizado. O aprendizados é considerado um processo puramente externo que não está envolvido ativamente no desenvolvimento (ele simplesmente se utilizaria dos avanços do desenvolvimento ao invés de fornecer um impulso para modificar seu curso). O desenvolvimento ou a maturação são vistos como uma pré-condição do aprendizado, mas nunca como resultado dele.
2ª Concepção: Aprendizado é desenvolvimento: O desenvolvimento é visto como o domínio dos reflexos condicionados, não importando se o que se considera é o ler, o escrever ou aritmética, isto é, o processo de aprendizado está completa e inseparavelmente misturado com o processo de desenvolvimento.
Diferenças são verificadas nessas duas concepções, quanto às relações temporais entre os processos de aprendizado e desenvolvimento:
1) Os ciclos de desenvolvimento precedem os ciclos de aprendizado, a maturação precede o aprendizado e a instrução deve seguir o crescimento mental.
2) Os 2 processos ocorrem simultaneamente: aprendizado e desenvolvimento coincidem em todos os pontos da mesma maneira que 2 figuras geométricas idênticas coincidem quando sobrepostas.
3ª Concepção: Tenta superar os extremos das outras duas, simplesmente combinando-as (ou seja, um processo influencia o outro), portanto, eles tem algo em comum.
Através dessa última concepção pode-se concluir que:
- Os dois processos anteriores tem algo em comum;
- Os dois processos anteriores que constituem o desenvolvimento são interagentes e dependentes;
- O amplo papel que a teoria atribui ao aprendizado no desenvolvimento da criança (o que leva a um velho problema pedagógico: o da disciplina formal e o problema da transferência o aprendizado numa área em particular influencia muito pouco o desenvolvimento como um todo)
Para Vygotsky, o brinquedo preenche necessidades
da criança. Estas necessidades estão ligadas a tudo aquilo
que é motivo de ação. Através do brinquedo, o
que na vida real passa despercebido para a criança, torna-se agora
uma regra de comportamento, que estão presentes em todas as
situações imaginadas, mesmo que de forma
oculta.
Com o brinquedo, a criança consegue grandes aquisições, relacionando seus desejos ao seu papel nas brincadeiras e suas regras, aquisições que no futuro formarão seu nível básico de ação real e moral.
[1] Vygotsky,
Liev Semiónovitch. A Formação Social da Mente: o
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, 4
edição, São Paulo: Martins Fontes,
1991