Universidade Federal de Santa Catarina
Departamento de Informática e de Estatística
Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação
Disciplina: Informática Aplicada à Educação

Sístese elaborada por Luciana Schuch Kreutz

O Desenvolvimento do Pensamento Pré-Operacional 

O estágio do desenvolvimento pré-operacional, que abrange as idades entre 2 a 7 anos, é classificado como sendo o segundo estágio no "continuum" do desenvolvimento.

Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é visto como um processo contínuo ao longo de um "continuum". As mudanças cognitivas e intelectuais ocorrem de forma seqüencial e todos os níveis são passados na mesma ordem em todas as pessoas. O processo de desenvolvimento é cumulativo e não é possível mudar-se de um nível para outro sem que as estruturas do nível anterior estejam previamente formadas.

O estágio pré-operacional é uma continuação do primeiro estágio de desenvolvimento, o chamado estágio de desenvolvimento sensório-motor. Neste primeiro estágio a criança trabalha mais as atividades sensório-motoras e o conhecimento é construído através da manipulação direta com objetos.

No estágio pré-operacional a criança ainda utiliza-se de atividades sensório-motoras para construir conhecimento, mas o desenvolvimento intelectual está baseado predominantemente nas atividades representacional, simbólica e social. A criança é capaz de representar eventos internamente e torna-se menos dependente de suas ações sensório-motoras para direcionar o comportamento.

Os tipos de representação que possuem grande valor no processo de desenvolvimento do estágio pré-operacional são: imitação diferida, jogo simbólico, desenho, imagens mentais e linguagem falada.

1^o Imitação Diferida:

• É a imitação de objetos e eventos que já ocorreram. Na imitação diferida o processo cognitivo de acomodação prevalece sobre o de assimilação, portanto sem a representação a imitação não seria possível. Os esquemas já devem estar formados e a criança está incubida de ajustá-los para efetuar a imitação.

2^o Jogo Simbólico:

• Forma de representação onde a criança aplica o mesmo esquema a diferentes objetos ou a um mesmo objeto aplica vários esquemas, apenas modificando o significado do objeto. Desta forma a assimilação é o processo cognitivo mais utilizado no jogo simbólico.

3^o Desenho:

• Representação de objetos através do desenho. A acomodação prevalece no ato de desenhar. As crianças desenham o que elas imaginam e não o que elas vêem.

4^o Imagens Mentais:

• São representações internas de objetos ou fatos que já ocorreram. Estas representações são a princípio estáticas. Apenas com o avanço do estágio que a criança torna-se capaz de mentalizar as imagens de forma dinâmica e não apenas como uma fotografia ou desenho, por exemplo.

5^o Linguagem Falada:

• É a forma de representação mais evidente no estágio pré-operacional. Segundo Piaget, o desenvolvimento da linguagem se baseia no desenvolvimento prévio de esquemas sensório-motores e um ambiente social que faz uso da linguagem falada. E que, respeitando o processo contínuo do desenvolvimento, somente depois de alcançar a capacidade de representar a experiência internamente, a criança pode começar a construir a linguagem falada.

  Um fator importante que o autor menciona para a motivação da aprendizagem da linguagem é a necessidade que a criança sente em expressar suas vontades e necessidades pessoais.

  Para o autor, "...A linguagem falada apresenta três conseqüências essenciais ao desenvolvimento mental: (1) a possibilidade de intercâmbio verbal com outras pessoas, que anuncia o início da socialização da ação; (2) a internalização da palavra, i. e., o aparecimento do pensamento propriamente dito, corroborado pela linguagem interna e por um sistema de signos; (3) por último e mais importante, a internalização da ação, a qual, de agora em diante, mais do que ser puramente perceptiva e motora, será uma representação intuitiva por meio de imagens e experimentos mentais".

  A linguagem possui grande influência na construção do conhecimento social visto que ele é construído pela criança a medida que ela interage com os outros.

  Assim como o processo de desenvolvimento cognitivo acontece seguindo uma linearidade, as formas de representação também possuem uma ordem de aparecimento. Uma depende da outra para que o processo seja efetivamente concretizado. A ordem de aparecimento acontece seguindo a ordem dos itens descritos acima.

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Piaget apresentou egocentrismo, centração, inabilidade de acompanhar transformações e ausência de reversibilidade como sendo as principais características do pensamento pré-operacional. Estas características no início do estágio agem como atenuantes ao desenvolvimento do pensamento lógico. No decorrer do estágio, elas vão se dissolvendo e a criança torna-se mais hábil para construir o pensamento lógico – no presente estágio diz-se que a criança possui um raciocínio pré-lógico ou semilógico. Assim como, torna-se mais social e comunicativa, devido a deterioração do egocentrismo.

A seguir será apresentada uma breve descrição destas características.

• Egocentrismo: O pensamento da criança é centrado em si mesma. Ela não analisa o ponto de vista do outro. Seu pensamento é sempre lógico e correto, restringindo, portanto, o avanço do desenvolvimento das estruturas cognitivas. A interação social é fundamental para dissolver o egocentrismo.

• Centração: A criança, neste estágio, possui a característica de centrar-se em apenas alguns aspectos limitados de um evento. Ao observar um evento torna-se mais evidente a avaliação perceptiva do que a cognitiva. Portanto, a percepção domina a razão.

• Raciocínio Transformacional: A criança não analisa uma transformação como um todo. "A criança vai de um evento perceptivo particular a outro evento perceptivo particular, mas não consegue integrar uma série de eventos em termos das relações início-fim". Detém-se a observar cada passo da transformação.

• Reversibilidade: "Se o pensamento de uma criança é reversível, ela pode seguir a linha de raciocínio de volta ao ponto de partida". Neste estágio a criança ainda não é capaz de retornar, mentalmente, uma operação, portanto, incapaz de revertê-las. Os conflitos entre a percepção e o pensamento são novamente resolvidos com base na percepção.

  
   

Estas características possuem uma forte correlação. O egocentrismo restringe a criança de descentrar o raciocínio e a acompanhar as transformações que por sua vez limitam-a na construção da reversibilidade. Com o avanço do estágio estas características tornam-se menos dominantes e a criança gradativamente torna-se mais hábil para interagir com o meio social.

Como exemplo da existência destas características numa criança neste estágio é a incapacidade que ela possui em solucionar problemas de conservação. "Ela não consegue entender a variação de uma dimensão frente a mudanças em outras dimensões". Soluciona o problema, geralmente, baseando-se na percepção.

Diante destas características podemos observar a forte ligação que a criança possui com o estágio sensório-motor. Ela ainda não se libertou do pensamento perceptivo e de suas atividades motoras para resolver problemas, mas não limita-se a eles, devido a sua capacidade de representação. Neste estágio elas caminham para o pensamento lógico.

Paralelamente ao desenvolvimento cognitivo ocorre o desenvolvimento afetivo e o social. As estruturas afetivas também são construídas e reconstruídas, assim como, nas estruturas cognitivas.

Neste estágio é onde efetivamente ocorre os primeiros sentimentos sociais. Torna-se possível pelo fato da criança utilizar-se da representação.

A respeito do desenvolvimento afetivo no estágio pré-operacional podemos dizer que:
 

O afeto é caracterizado como sendo pré-normativo, isto é, "as crianças não desenvolvem o senso de obrigação como oposto a um senso de obediência";
 

O respeito é unilateral. Isto significa que, há pouca cooperação no sentido social, há apenas obediência;
 

As crianças tornam-se cientes das regras e exigem que todos as obedeçam. Percebem as regras como fixas e imutáveis. São criadas por autoridades, por isso devem ser sempre respeitadas;
 

As crianças não possuem o sentido completo de intencionalidade em seus julgamentos sobre acidentes. Para elas, tudo o que não é certo é intencional. Elas não entendem que certas coisas podem acontecer por acidente;
 

A mentira é percebida como algo que não é verdade. Elas não consideram a intenção no seu julgamento em relação a mentira;
 

A punição é ocasionada pela desobediência as regras. Ela deve ser severa e não precisa estar relacionada com o fato que a ocasionou. Para Piaget, este tipo de punição é chamada punição expiatória. O outro conceito de punição é a punição por reciprocidade, significando que, a punição está sempre relacionada com o conteúdo da regra infringida.